A mostra é resultado de registros fotográficos e anotações dos diários de bordo dos velejadores Beto Pandani e Igor Bely durante 2013.
Em 2013, Beto Pandiani e Igor Bely realizaram a travessia do Atlântico a bordo de um catamarã sem cabine; partiram da Cidade do Cabo, na África do Sul, e 37 dias depois chegaram em Ilhabela, no litoral do Brasil.
atlântico, travessias é uma metáfora sobre união e separação geológicas. Agora se apresenta no formato de exposição, mas a sua gênese foi um livro que, quando fechado, reúne os continentes numa analogia com o Gondwana; aberto, transforma-se num imenso oceano em escala aproximada 1:1.000.000. São 8 metros de papel, que emulam os quase 7 mil quilômetros que separam os portos de partida e chegada. Foi arquitetado no formato de uma extensa sanfona (leporello é o termo gráfico) para ser contemplado em duas vertentes – chamemos de bombordo e boreste, para assim ficarmos ainda no mar.
A viagem de Beto Pandiani e Igor Bely é o bombordo da história, recontada através dos seus diários de bordo.
Nesse trajeto, cheio de aconteceres ou de ausências, os dois marinheiros tiveram como ineludível e fiel companheiro o horizonte distante, presente em todas as páginas. É uma linha diretriz a unir dois pontos, a guiar o olhar e a delimitar os mundos: água e ar, mar e céu. E, ao redor dessa linha, imagens cotidianas preenchem as intermináveis horas atravessadas.
No boreste as histórias são outras. O Atlântico assume o protagonismo, desde sua gênese ligada à tectônica de placas e deriva continental até os dias que o navegam neste século XXI. O oceano nos conta sobre si. Em suas águas foram esparsamente jogados verbetes significativos ou significantes, para assim decantar alguns dos fascinantes momentos em que o Atlântico foi palco ou plateia.
Dividindo o espaço com os verbetes, há ainda um breve ensaio fotográfico que mostra seres com morada nas profundezas dos nossos oceanos. A escolha é uma elegia a esses desconhecidos habitantes abissais que fluem silenciosamente onde a luz não alcança. Tais fotografias, de vidas alheias ao nosso entendimento – e ainda assim dependentes dele –, brilham como um alerta no abismo.
Roberto Linsker
Terra Virgem Edições
Fotografia: Beto Pandani, Igor Bely e Maristela Colucci e Solvin Zankl
Realização: Terra Virgem Editora e Produções Culturais e Linha da Cultura
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