Com curadoria do artista Mundano, a Linha da Cultura e a 13ª Virada Sustentável São Paulo 2023, apresentam a mostra com 19 artistas convidados, dentre 150 artistas de 11 estados do Brasil, que receberam cinzas da floresta como pigmento para realizarem as obras. As cinzas foram coletadas nas florestas queimadas da Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
Cinzas da Floresta
Pintar com carvão e cinzas é talvez uma das técnicas de pintura mais antigas da humanidade. Homens e mulheres das cavernas, em suas pinturas rupestres, registravam seu cotidiano e seus pensamentos com o que restava do fogo.
Mais de 20.000 anos depois e cansado de ver a floresta queimar, resolvi tirar a bunda do sofá e sair numa expedição de 26 dias por mais de 10 mil km com o intuito de coletar as cinzas das florestas de queimadas ilegais, para fazer tinta e pintar a maior e mais desafiadora obra da minha vida: a releitura de “O Lavrador de Café” de Cândido Portinari.
Parecia uma ideia de louco, mas deu certo, e esse ativismo com mais de 1000 m2 denunciou esse desmonte ambiental, repercutindo no Brasil e no mundo. A obra virou aula em escolas e foi uma grande homenagem aos brigadistas que se arriscam apagando esse fogo criminoso.
Mas isso não poderia parar aí, afinal, as queimadas nunca cessaram. Pelo contrário, só aumentaram e batem mais recordes a cada mês.
Foi aí que decidi compartilhar as cinzas nas mãos de mais artistas para que pudessem sentir o pigmento e registrar seus pensamentos e esse cotidiano tenebroso que vivemos hoje.
As cinzas e recursos para montagem dos kits eram limitados, mas o interesse dos artistas em somar não. Artistas de várias regiões do Brasil começaram a pedir as cinzas da floresta, e fomos enviando até que se esgotaram os estoques. Foi aí que descobrimos que alguns artistas já estavam repartindo seu kit com as cinzas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal com mais artistas que tinham ficado sem.
Artistas de São Paulo a Xapuri, cidade de Chico Mendes, doaram suas obras, e o valor das obras será repassado para a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias se estruturar para ajudar brigadas pelo Brasil a estarem treinadas e equipadas para combater esse fogo da ganância que queima por ano uma área do tamanho da Inglaterra.
Sendo assim, mais do que uma reflexão coletiva, esses artistas fizeram um verdadeiro manifesto visual, dramático e belo ao mesmo tempo, usando muito mais que 50 tons de cinza. A arte aqui é uma ferramenta de impacto, e essa é a essência do artivismo.
Afinal, é uma questão de sobrevivência. Não estamos aqui defendendo a natureza, somos a própria natureza se defendendo. Cinzas da Floresta é talvez a maior produção artística coletiva sobre o tema das queimadas que temos notícia nesse país, que tem a maior biodiversidade do mundo e em um momento crucial da nossa história.
A exposição nos convida a refletir sobre os desafios do nosso planeta, que pede ajuda sob os efeitos da emergência climática, por meio de uma arte brasileira, diversa, ativista e conectada.
Pintamos com a Floresta em pó como um grande grito pela Floresta em pé.
Mundano
Realização: Virada Sustentável e Linha da Cultura