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Paranapiacaba: uma vila inglesa do século XIX no Brasil

Estação Clínicas, Linha 2-Verde
02.08 a 31.08.2022

A mostra, em parceria com o Fotoclube ABCclick, é composta por 40 imagens que registram paisagens e cenas da vila. As fotos foram escolhidas de um total de 400 inscritas na Convocatória Paranapiacaba-Salamanca, que aconteceu durante o 3º Festival de Fotografia de Paranapiacaba, em 2021.

As casas da Vila de Paranapiacaba (que na língua tupi-guarani significa “lugar de onde se avista o mar”) começaram a serem erguidas para abrigar os funcionários da São Paulo Railway Company (SPR), que estava construindo um sistema de trens funiculares (articulados com contrapesos) para transpor os quase 800 metros de altura da Serra do Mar, visando o escoamento da produção do café proveniente do interior do Estado de São Paulo para o Porto de Santos.

As obras tiveram início em 1860, comandadas pelo engenheiro inglês Daniel M. Fox. Apesar dos primeiros estudos para a implantação da ferrovia datarem de 1835, foi apenas depois de 1850 que a ideia começou a sair do papel, graças ao espírito empreendedor do Barão de Mauá. Em 26 de abril de 1856, a recém-criada empresa inglesa São Paulo Railway Company recebia, por um decreto imperial, a concessão para a construção e a exploração da ferrovia por 90 anos.

Inicialmente era apenas um acampamento de operários, mas logo depois da inauguração da ferrovia, em 1867, houve a necessidade de alocar parte deles definitivamente no local para cuidar da manutenção do sistema.

O primeiro nome dado ao lugarejo foi de Estação Alto da Serra, mas por causa da sua localização, último ponto antes da descida da serra, a vila começou a ganhar importância. Também nesta época foi fundada, em torno da estação São Bernardo, a futura cidade de Santo André, à qual a vila de Paranapiacaba pertence hoje.

Enquanto isso, a ocupação no interior do estado se consolidou, graças à estrada de ferro. O comércio e a produção agrícola aumentaram significativamente. Em pouco tempo já era preciso duplicar a ferrovia. A partir de 1896, começaram as obras. Paralelamente aos trabalhos de duplicação, a vila também sofreria modificações.

No alto de uma colina, os ingleses construíram a casa do engenheiro-chefe, chamada de Castelinho, de onde toda a movimentação no pátio ferroviário poderia ser observada. Na mesma época foi erguida a Vila Martim Smith, com casas em estilo inglês, de madeira e telhados em ardósia, para servir de moradia aos funcionários da empresa.

Em 1900, o novo sistema de planos inclinados é inaugurado, recebendo o nome de Serra Nova.

Mesmo com a crise cafeeira de 1929, Paranapiacaba ainda funcionava a todo vapor. Em outubro de 1946, a SPR foi incorporada à Rede Ferroviária Federal, dando origem à Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Este fato é apontado pelos antigos moradores como o início da decadência da vila. Com a desativação parcial do sistema funicular, na década de 1970, mais um golpe: parte dos funcionários é dispensada ou aposentada e outros são contratados para cuidar do novo sistema de transposição da serra – a cremalheira-aderência.

Já em declínio, o sistema funicular sofreu um grande impacto com um incêndio que atingiu a antiga estação em janeiro de 1981, sendo completamente desativado no ano seguinte.

Em 1986, a Rede Ferroviária entregou restaurados o sistema funicular entre o 4° e o 5° patamares e o Castelinho. No ano seguinte, o núcleo urbano, os equipamentos ferroviários e a área natural de Paranapiacaba foram tombados pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.

Os projetos de restauros das casas da vila só começaram nos anos 2010, sendo que seu símbolo mais chamativo, a torre do relógio inspirado no Big Ben londrino, teve seu restauro concluído somente em 2019.

Apesar da queda no investimento ferroviário, a Vila de Paranapiacaba é um legado histórico de uma São Paulo imperial, além de ser tombada como Patrimônio da Humanidade.

É uma área de passagem obrigatória para fotógrafos de várias cidades da região, tanto amadores como profissionais, já que sua arquitetura única no Brasil a torna um local singular de foto e filmagem.

A atual estação de Paranapiacaba não é o mesmo prédio construído pelos ingleses no final do século 19. O prédio original tinha trilhos por onde passavam os trens pelos dois lados, era bem maior que o atual, mas foi destruído por um incêndio em 1981.

Antes mesmo do incêndio, a estação já havia sido desativada em 1977 e substituída pelo prédio atual.

Até a metade do século 20, o transporte ferroviário era sinônimo de luxo. E um dos marcos foi o trem Cometa, que fazia a linha Santos-São Paulo. O trem possuía serviço de bordo e poltronas leito, como as de ônibus. Além dele, também havia os trens Estrela, Planeta e Litorina (semi-luxo).

Incrustada num dos poucos pontos remanescente da Mata Atlântica, bioma de floresta tropical distante apenas 50 km da capital do Estado de São Paulo, a Vila de Paranapiacaba tem a peculiar neblina que aparece repentinamente encobrindo o sol quase por encanto, fazendo que o local ganhe ares de um espaço mágico ou sobrenatural, e se desfazendo por completo momentos ou horas depois.

As imagens desse projeto reunem 40 fotografias de 40 fotógrafos distintos que por lá passaram e registraram detalhes da construção da Vila, quase toda baseada em trilhos, cabos de aço e outras partes de peças de ferrovias.

Esse projeto documenta, além de sua a natureza em volta e sua população, seja habitante, turista ou do comércio local, tanto o desafio dessa construção assim como o desaparecimento dessa vila, seja pela simples ferrugem, seja pelo descuido na conservação do patrimônio histórico, e também o seu retorno como ponto de turismo e lazer.

Realização: Fotoclube ABCclick 
Apoio: Linha da Cultura   

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Estação Clínicas, Linha 2-Verde
02.08 a 31.08.2022

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